Como Editores de Periódicos e Revisores por Pares Tomam Decisões em Periódicos
As revistas acadêmicas variam amplamente – no conteúdo que consideram, nos estilos e modos de apresentação que preferem, nas práticas de revisão por pares que utilizam e nas razões que fundamentam suas decisões de publicar ou não um artigo. Como regra geral, entretanto, pesquisas originais de alta qualidade sobre um tema dentro do escopo de uma determinada revista e claramente apresentadas de acordo com suas diretrizes e padrões acadêmicos ou científicos mais amplos são desejáveis. Para garantir que isso seja o que realmente publicam, revistas respeitáveis tendem a aplicar mais de um nível de avaliação a um manuscrito acadêmico ou científico submetido para consideração, e várias pessoas – revisores, avaliadores por pares e, às vezes, equipe técnica e administrativa também – estarão envolvidas na decisão de aceitar ou não esse manuscrito e, por fim, publicá-lo.
O processo de tomada de decisão de qualquer periódico pode, portanto, ser bastante complexo e envolver muitos procedimentos distintos, mas como eles serão ligeiramente diferentes em cada periódico, talvez seja mais útil pensar em três principais etapas de avaliação e subsequente tomada de decisão que ocorrem em periódicos científicos e acadêmicos revisados por pares. A primeira etapa consiste em uma triagem técnica e editorial; a segunda é o próprio processo de revisão por pares; e a terceira é a avaliação dos relatórios dos revisores e a decisão final de publicação.
1. A triagem técnica e editorial antes da revisão por pares.
Tantos manuscritos são agora submetidos a periódicos acadêmicos e científicos a cada mês que a triagem rigorosa pré-revisão tornou-se a norma para aliviar a pressão sobre os revisores por pares sobrecarregados. Essa triagem inicial foca em garantir que um manuscrito submetido seja potencialmente adequado para publicação e, portanto, digno de revisão por pares. Exatamente quem realiza a triagem ou qualquer parte dela depende do periódico em particular e de sua equipe. Um membro da equipe administrativa ou assistente técnico que recebe submissões online pode, por exemplo, garantir que todos os arquivos em uma submissão estejam completos e sem danos, que todas as informações pessoais sejam fornecidas da maneira correta e que nenhuma parte do manuscrito revele semelhança com texto publicado que possa constituir plágio. Essa pessoa ou talvez um estudante de pós-graduação que trabalha na disciplina do autor também pode verificar o manuscrito quanto à conformidade com as diretrizes do periódico para autores, relativas a limites de extensão, organização estrutural do artigo, tipo de referências, versão do inglês preferida e quaisquer outros requisitos de formatação, estilo e apresentação. O especialista no assunto ou talvez um editor ou até mesmo o editor-chefe do periódico pode examinar mais de perto o conteúdo do manuscrito para determinar se o tema da pesquisa está dentro do escopo do periódico em termos de conteúdo e importância, e se a metodologia, os resultados e as interpretações são válidos e suficientemente originais para merecer publicação. A clareza e a qualidade da escrita do autor também podem ser analisadas por um ou mais desses indivíduos, pois uma escrita ruim não consegue comunicar com precisão uma pesquisa complexa.
Exatamente como cada uma dessas e outras possíveis verificações são realizadas e como as decisões baseadas nelas são tomadas e compartilhadas com o autor depende naturalmente de quem está verificando e decidindo. Um artigo que claramente relata uma pesquisa excelente, mas negligencia usar a estrutura ou o estilo de documentação indicado nas diretrizes do periódico, pode ser imediatamente rejeitado pela equipe técnica sem qualquer indicação do motivo, enquanto um artigo sobre um tema especialmente quente ou uma questão de interesse particular para o editor que o está considerando pode ser enviado para os revisores apesar de erros gramaticais evidentes que, em última análise, precisarão ser corrigidos pelo autor. O que é certo, no entanto, é que a rejeição pode vir de vários ângulos durante o processo de triagem pré-revisão, e qualquer coisa considerada abaixo do limite de qualidade para conteúdo, linguagem e formatação estabelecido pelo periódico pode ser rejeitada. Portanto, é imperativo que os autores sigam todas as diretrizes e instruções com precisão e consistência ao longo de seus manuscritos antes de submeter seu trabalho a um periódico, e, se algo foi negligenciado, que façam as alterações necessárias imediatamente. Também é extremamente útil durante esse processo inicial de triagem uma carta de apresentação cuidadosamente escrita que explique o que é especialmente inovador e valioso na pesquisa e por que o manuscrito que a relata é uma combinação perfeita para o periódico e seus leitores.
2. O processo de revisão por pares.
Uma vez que um manuscrito é considerado digno de revisão, revisores pares qualificados (geralmente dois ou três, mas possivelmente até seis) são escolhidos e contatados. Os revisores devem possuir o conhecimento, habilidades, experiência em pesquisa e expertise metodológica necessários para avaliar a pesquisa do autor. Normalmente, um único editor é designado para supervisionar o processo de revisão por pares, então ele ou ela escolherá esses especialistas, considerando quaisquer conflitos de interesse relatados pelo autor, talvez usando sugestões oferecidas pelo autor e possivelmente após consulta com outros revisores do periódico. O periódico ou o editor individual pode fornecer aos revisores instruções específicas para a revisão dos manuscritos, e revisores experientes frequentemente têm suas próprias listas de verificação também, portanto, é impossível dizer exatamente no que um revisor específico irá focar ou considerar brilhante ou problemático. Como especialistas na área de estudo ou especialização, entretanto, eles necessariamente focarão na qualidade e importância da pesquisa, na clareza e precisão com que o autor a relata, e no impacto intelectual e prático das interpretações e implicações oferecidas pelo autor. Referências precisas e completas e clareza quanto a questões de financiamento e apoio à pesquisa serão preocupações para muitos revisores, mas qualquer parte ou aspecto de um artigo pode estar sujeito ao escrutínio mais intenso. Elementos proeminentes como o título, o resumo, a introdução, a descrição da metodologia e dos resultados, assim como o rigor e a validade desses métodos e achados, serão sempre examinados cuidadosamente, assim como citações e citações diretas, gramática e terminologia especializada, ou recursos visuais como tabelas, gráficos e outras figuras. Se houver um erro de fato, lógica ou procedimento, um dos revisores certamente o apontará; se um autor negligenciar discutir e situar seu trabalho dentro da produção acadêmica publicada, um revisor solicitará que isso seja feito; se a especulação na discussão dos resultados levar o autor muito além da pesquisa relatada no manuscrito, um revisor levantará uma bandeira vermelha; se casos de plágio forem perdidos pela equipe de triagem, revisores especialistas geralmente os detectarão.
Como regra geral, é mais comum que os revisores pares comentem sobre questões relacionadas à melhoria da apresentação escrita e discussão da pesquisa do que sobre questões relacionadas à melhoria das formas como a pesquisa foi realmente conduzida, portanto grande parte de suas críticas estará relacionada a vários aspectos da apresentação, descrição e interpretação eficazes. Juntamente com comentários detalhados e sugestões de melhorias, cada revisor geralmente fornece ao editor uma recomendação para o manuscrito. Recomendações de rejeição sem reconsideração são comuns em um clima editorial saturado e, às vezes, vêm com não mais do que uma ou duas razões principais, em vez de sugestões detalhadas para melhoria. Aceitação sem nenhuma alteração é uma recomendação de revisor extremamente rara. A maioria dos revisores recomenda reconsideração após as mudanças serem feitas, sejam essas mudanças consideradas menores (como alterar o estilo das referências, corrigir ortografia e ajustar o design das tabelas) ou maiores (redesenhar e repetir a pesquisa seria uma mudança maior, assim como reescrever completamente um manuscrito para resolver problemas significativos com a linguagem ou a interpretação dos resultados). Eles também podem recomendar uma nova revisão antes da aceitação, especialmente para verificar se falhas ou problemas maiores foram corrigidos. As opiniões e julgamentos dos revisores podem ter um impacto significativo na decisão final de publicar ou não um artigo, mas os revisores pares não tomam essa decisão.
3. A avaliação dos relatórios dos revisores e a decisão final de publicação.
O editor responsável pelo processo de revisão por pares é geralmente a pessoa que decide se o manuscrito deve ser rejeitado, reconsiderado após alterações ou aceito como está, sem mudanças. Em alguns casos, ele ou ela pode consultar outros revisores ou especialistas no assunto da revista, e frequentemente o editor-chefe tomará ou pelo menos aprovará a decisão final de aceitação antes que ela seja compartilhada com o autor. É ainda mais raro para um editor do que para um revisor aceitar um artigo imediatamente sem quaisquer alterações, e o processo de tomada de decisão editorial pode, de fato, ser bastante complexo. Os revisores escolhidos para um manuscrito, por exemplo, podem variar amplamente em suas perspectivas sobre a pesquisa, seu valor e seu significado. Como opiniões individuais baseadas em expertise variada são o objetivo de usar mais de um revisor, isso é positivo, mas significa que o aspecto do manuscrito que recebe elogios de um revisor pode muito bem exigir revisão do ponto de vista de outro. Se o editor está solicitando mudanças a um autor, ele ou ela pode deixar que o autor faça as revisões que abordarão as preocupações de todos os revisores, mas em muitas situações o editor resolverá diferenças sérias de opinião preferindo as visões de um revisor, trazendo revisores adicionais para novas perspectivas ou sugerindo ao autor como os conflitos podem ser melhor resolvidos.
Embora o editor da revista sempre leve muito a sério os comentários e sugestões dos revisores, pode haver casos em que o relatório fornecido por um revisor seja simplesmente inadequado, apresentando decisões ainda mais desafiadoras. Talvez um revisor tenha estado com pressa, por exemplo, e tenha feito apenas um trabalho superficial ou incompleto. Talvez seus comentários pareçam incorretos para o editor, seja porque o revisor não possuía o conhecimento ou a expertise necessária para uma avaliação eficaz, seja porque a perspectiva do revisor é obviamente tendenciosa ou os comentários foram claramente gerados por ambição pessoal. Nesses casos, o editor pode precisar ignorar todo o relatório de revisão ou pelo menos grandes partes dele, e talvez convidar novas opiniões de outros revisores ou colegas editoriais. Em quase todos os casos, o editor designado para um manuscrito também adicionará seus próprios comentários e sugestões. Estes provavelmente diferirão, talvez significativamente, do feedback oferecido pelos revisores – a menos que o editor compartilhe a especialização do autor, afinal, ele ou ela provavelmente não se concentrará nas mesmas questões que os revisores especialistas. O editor, no entanto, provavelmente estará preocupado com o público da revista, o espaço disponível em cada edição e outros aspectos da qualidade, impacto e sucesso contínuo da publicação. O comprimento do manuscrito pode ser uma preocupação, assim como a língua em que está escrito, especialmente se houver problemas com gramática e similares que obscureçam ou confundam o significado do autor. A adesão às diretrizes estruturais, estilísticas e de documentação fornecidas pela revista pode surgir novamente, elementos visuais como tabelas e figuras podem ser sinalizados para redesenho ou ajuste fino, e questões como práticas éticas, padrões de relato e conflitos de interesse podem ser escrutinados.
Os revisores de periódicos acadêmicos frequentemente surpreendem os autores com seus pensamentos e sugestões de melhorias, e certamente podem decidir rejeitar artigos que os revisores por pares teriam aceitado. De fato, um editor tem muito mais probabilidade de rejeitar um manuscrito com base na recomendação de um revisor do que de aceitar um manuscrito pelos mesmos motivos, e a maioria exige mais recomendações de aceitação para tomar uma decisão positiva do que recomendações de rejeição para chegar a uma decisão negativa. Suas decisões também podem se prolongar, com os autores sendo solicitados a revisar seu trabalho mais de uma vez para reconsideração e talvez nova revisão pelos mesmos ou novos revisores por pares. Embora os pedidos de revisão signifiquem que um manuscrito tem potencial para ser publicado no periódico e o editor possa estar mais relutante em rejeitá-lo do que um que não tenha iniciado o ciclo de revisão e revisão, isso não significa que o artigo já seja publicável, de modo que o editor em qualquer estágio do processo ou mesmo o editor-chefe no final pode decidir rejeitar o manuscrito. Uma necessidade contínua de mudanças significativas após uma rodada de revisão e nova revisão, por exemplo, geralmente significa que um manuscrito está destinado à rejeição, mas se esse for o resultado final, as razões geralmente foram tornadas abundantes para o autor, que pode usar esse feedback valioso para melhorar o artigo antes de submetê-lo em outro lugar para nova análise e novas decisões. Se, por outro lado, o trabalho árduo do autor garantir a aceitação do artigo, outros membros da equipe do periódico começarão a tomar decisões à medida que o manuscrito entra em produção e é editado e diagramado.
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