Resumo
Para a maioria dos pesquisadores, o e-mail de um editor de revista que inclui uma longa lista de comentários dos revisores é ao mesmo tempo bem-vindo e desconfortável. É bem-vindo porque geralmente significa “revisar e reenviar” em vez de rejeição direta; desconfortável porque as mudanças solicitadas podem ser extensas e às vezes parecerem esmagadoras. Nesse momento, suas chances de aceitação eventual dependem não apenas de quão bem você revisa o manuscrito, mas também de quão profissionalmente você responde aos comentários da revisão por pares.
Este artigo explica os principais dos and don’ts de como responder aos revisores. Ele descreve como ler e interpretar o feedback, organizar uma resposta ponto a ponto e demonstrar gratidão e coleguismo mesmo quando a crítica parecer dura. Fornece uma estrutura modelo para cartas de resposta, incluindo exemplos de frases para concordar, discordar e lidar com comentários contraditórios. Também discute quando e como recusar uma sugestão, como envolver o editor de forma construtiva e por que clareza, educação e detalhes na sua resposta podem influenciar fortemente a decisão editorial final.
Finalmente, o artigo destaca erros comuns a evitar — como ignorar comentários, responder de forma defensiva ou não indicar onde as mudanças foram feitas — e oferece dicas práticas para tornar sua resposta clara e persuasiva. Para submissões de alta importância, uma edição cuidadosa e revisão independente da sua carta de resposta, assim como do manuscrito revisado, podem melhorar significativamente a impressão que você causa em editores e revisores.
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O Que Fazer e Não Fazer ao Responder Comentários de Revisão por Pares
1. Por Que Sua Carta de Resposta é Tão Importante
Receber um e-mail de decisão dizendo que seu manuscrito “não pode ser aceito em sua forma atual” e que vem acompanhado de páginas de comentários dos revisores pode parecer um golpe — especialmente se você esperava silenciosamente por “aceitar como está”. No entanto, na publicação acadêmica moderna, um pedido de revisão geralmente é uma boa notícia. Pouquíssimos manuscritos são aceitos sem revisões; muitos são rejeitados sem nem mesmo passar por revisão. Se o editor investiu em obter feedback detalhado e convida você a reenviar, ele está sinalizando que vê potencial em seu trabalho.
Nesta fase, duas coisas agora determinam suas chances de aceitação final:
- a qualidade e adequação das revisões que você fizer, e
- a clareza, o tom e a completude da sua resposta aos revisores.
Sua carta de resposta não é uma formalidade administrativa; é um documento persuasivo dirigido tanto ao editor quanto aos revisores. Ela demonstra se você compreendeu suas preocupações, as levou a sério e revisou o manuscrito de forma cuidadosa e profissional. Uma resposta confusa, defensiva ou incompleta pode desfazer muito do bom relacionamento criado pela decisão inicial do editor de “revisar e reenviar”.
2. Primeiros Passos: Leitura, Reflexão e Planejamento
2.1 Leia os comentários com atenção — e mais de uma vez
Antes de redigir qualquer resposta, leia a carta do editor e todos os comentários dos revisores várias vezes. Imprima-os ou coloque-os lado a lado com seu manuscrito. Ao ler:
- Destaque ou sublinhe as preocupações-chave que aparecem mais de uma vez.
- Observe quais comentários são principais (que afetam métodos, resultados ou argumento geral) e quais são menores (erros de digitação, pequenas clarificações, questões de formatação).
- Marque quaisquer comentários que você não compreenda totalmente.
Se o significado de um revisor não estiver claro ou você não souber como abordar um ponto específico, discuta com um colega de confiança, coautor ou mentor. Você pode depois buscar esclarecimentos com o editor, mas sua primeira linha de apoio é sua própria rede.
2.2 Decida sua estratégia de revisão
Existem duas maneiras comuns de abordar as revisões e a carta de resposta:
- Revise primeiro, depois escreva a resposta: Você modifica o manuscrito e depois descreve todas as alterações em sua carta.
- Escreva a resposta enquanto revisa: Para cada comentário, você revisa simultaneamente o manuscrito e redige uma resposta correspondente.
Ambas as abordagens podem funcionar. O que importa é que sua carta de resposta final e o manuscrito revisado estejam totalmente alinhados. Toda alteração que você descreve deve realmente aparecer no texto, e toda alteração solicitada que você não fez deve ser explicitamente abordada com uma explicação fundamentada.
3. Estruturando uma Resposta Clara e Profissional
3.1 Comece com informações essenciais e um tom positivo
Comece sua carta de resposta:
- agradecendo ao editor e aos revisores pelo tempo e feedback construtivo, e
- identificando seu manuscrito pelo título e, se aplicável, pelo número de identificação do manuscrito.
Um breve parágrafo introdutório pode ser assim:
"Agradecemos ao editor e aos revisores pela cuidadosa avaliação do nosso manuscrito, ‘[Title]’ (Manuscript ID [XXXX]). Agradecemos os comentários e sugestões ponderados, que nos ajudaram a melhorar a clareza e a robustez do artigo. Abaixo abordamos cada ponto levantado, indicando as alterações feitas no manuscrito revisado."
3.2 Use um formato ponto a ponto
O formato mais amplamente aceito e útil é uma resposta ponto a ponto. Para cada comentário, você:
- Copie ou parafraseie o comentário do revisor.
- Forneça sua resposta abaixo dela.
- Descreva a alteração que você fez e indique onde ela aparece no manuscrito (números de página e linha).
Para manter as coisas organizadas:
- Rotule cada comentário claramente (ex.: “Revisor 1, Comentário 1”; “Revisor 2, Comentário 3”).
- Use rótulos como Comentário, Resposta e Alteração para que os editores possam identificar rapidamente cada um.
- Considere numerar os comentários sequencialmente (1, 2, 3…) mesmo que o revisor não tenha feito isso; isso facilita referências posteriores.
A codificação por cores ou fontes diferentes pode ajudar durante a elaboração, mas lembre-se que as cores podem não ser preservadas nos sistemas de submissão. Rótulos claros são mais confiáveis.
3.3 Exemplo de uma resposta bem estruturada
Aqui está uma resposta modelo a um comentário de revisor sobre o resumo:
Revisor 1, Comentário 1: “O resumo cobre os pontos necessários, mas está muito longo e parece copiado da conclusão. É necessária uma reescrita completa conforme as diretrizes do periódico, e gostaria de ver percentuais precisos para os principais achados nas frases finais.”
Resposta: “Agradecemos ao revisor por esta observação útil. Concordamos que fornecer percentuais precisos no resumo tornará os principais achados mais claros. Também revisamos as diretrizes do periódico e reconhecemos que nosso resumo original não seguiu totalmente a estrutura recomendada.”
Alterações: “Reescrevemos completamente o resumo seguindo o formato estruturado especificado pelo periódico (Contexto, Métodos, Resultados, Conclusões). Agora está mais curto e foca mais diretamente nos principais achados. As novas frases finais são: ‘[Insira as frases revisadas aqui com percentuais].’ O resumo revisado pode ser encontrado na página 2, linhas 25–47 do manuscrito.”
Esta resposta ilustra vários princípios importantes: gratidão, concordância quando apropriado, reconhecimento do problema e descrição precisa da ação corretiva.
4. Os Deveres: Melhores Práticas para Responder aos Revisores
4.1 Mantenha um tom calmo e respeitoso
Mesmo quando os comentários parecerem duros ou injustos, seu tom deve permanecer profissional e cortês. Revisores geralmente são voluntários não remunerados; eles investiram tempo lendo seu trabalho. Frases como:
- “Agradecemos esta sugestão…”
- “Concordamos que este ponto precisava de esclarecimento…”
- “Esta é uma observação excelente, e agora nós…”
ajude a manter um ambiente colegial. Evite sarcasmo, perguntas retóricas ou linguagem que implique que o revisor simplesmente não entendeu seu trabalho excelente.
4.2 Aborde todos os comentários
Editores e revisores esperam que cada ponto na carta de decisão e nos relatórios de revisão seja abordado. Pular um comentário, mesmo que você o considere trivial, pode dar a impressão de que está ignorando o feedback seletivamente. Se decidir não agir sobre uma sugestão menor (por exemplo, porque conflita com o estilo do periódico), diga isso explicitamente e explique o motivo.
4.3 Faça alterações sempre que razoavelmente possível
Mesmo quando discordar de uma sugestão, pergunte-se se há uma forma de acomodar a preocupação subjacente. Frequentemente, comentários que aparentemente “perdem o ponto” indicam que uma seção do seu artigo estava pouco clara. Ao melhorar a explicação — mesmo que não faça exatamente a mudança solicitada — você demonstra flexibilidade e um desejo genuíno de ajudar os leitores.
4.4 Explique e sinalize as mudanças claramente
Quando descrever uma mudança, sempre indique onde ela aparece no manuscrito revisado. Isso poupa os revisores de terem que procurar as modificações e mostra que você considerou o tempo deles. Uma frase típica pode ser:
“Adicionamos um parágrafo explicando os critérios de amostragem na Seção 2.3 (página 7, linhas 135–152).”
Algumas revistas solicitam que os autores destaquem as mudanças no manuscrito (por exemplo, usando controle de alterações ou texto colorido). Siga essas instruções cuidadosamente e assegure-se de que as mudanças destacadas correspondam às descrições em sua carta de resposta.
4.5 Peça ajuda quando necessário
Responder a revisões complexas pode ser desafiador, especialmente se esta for sua primeira grande revisão. Discutir os relatórios dos revisores com coautores ou mentores pode ajudar a interpretar os comentários e planejar respostas eficazes. Se o inglês não for sua língua nativa, considere pedir a um colega ou a um serviço profissional de revisão acadêmica para verificar sua carta de resposta quanto à clareza, tom e correção antes da submissão.
5. Os Não: Armadilhas a Evitar
5.1 Não responda com raiva ou frustração
É normal sentir-se na defensiva quando seu trabalho é criticado. No entanto, e-mails e cartas escritos no calor do momento podem causar danos duradouros. Nunca envie uma resposta no mesmo dia em que lê as revisões. Em vez disso, redija suas respostas, deixe-as por pelo menos uma noite e releia-as com a cabeça fria. Remova ou reformule qualquer coisa que soe emocional, confrontadora ou desdenhosa.
5.2 Não ignore preocupações importantes
Se os revisores levantarem questões substanciais sobre seus métodos, análises ou interpretação, simplesmente afirmar “Respeitosamente discordamos” sem mais argumentos provavelmente não satisfará o editor. Quando não puder cumprir totalmente uma solicitação — por exemplo, porque coletar novos dados é impossível dentro de um prazo razoável — explique isso claramente e ofereça passos alternativos que você tenha tomado:
“Concordamos que dados adicionais de um segundo local fortaleceriam a generalização de nossas descobertas. Infelizmente, isso está além do escopo e do prazo do projeto atual. No entanto, ampliamos a discussão dessa limitação na Seção 5 (página 18, linhas 390–410) e esclarecemos os limites de nossas conclusões.”
5.3 Não deturpe as mudanças
Ocasionalmente, autores dizem “mudamos X” quando, numa análise detalhada, a modificação é mínima ou inexistente. Isso mina a confiança. Se decidir fazer apenas uma pequena alteração, descreva-a honestamente. É melhor dizer:
“Reformulamos ligeiramente a frase na página 10, linha 210 para…”
"do que afirmar uma “revisão completa” quando apenas edições cosméticas foram feitas."
"5.4 Não jogue os revisores uns contra os outros sem cuidado"
"Às vezes, os revisores se contradizem. Um pode pedir que você corte uma seção que outro insiste ser vital. Nesses casos, não escolha simplesmente o comentário que preferir e ignore o outro. Em vez disso:"
- "explique o conflito em sua carta de resposta,"
- "justifique sua abordagem escolhida, e"
- "quando apropriado, peça a orientação do editor."
"Por exemplo:"
"O Revisor 1 sugeriu remover a Figura 2, enquanto o Revisor 2 enfatizou sua importância. Mantivemos a figura, mas simplificamos a legenda e as referências cruzadas, pois acreditamos que ela é útil para os leitores. Ficaremos felizes em seguir orientações adicionais do editor sobre este ponto."
"6. Quando e Como Discordar dos Revisores"
"Você não é obrigado a aceitar toda sugestão. Existem razões legítimas para recusar uma mudança, incluindo:"
- "a sugestão está factualmente incorreta ou baseada em um mal-entendido dos seus dados,"
- "implementá-lo prejudicaria a integridade do estudo ou representaria incorretamente seus achados, ou"
- "o trabalho solicitado está claramente além do escopo razoável do projeto atual."
"No entanto, qualquer discordância deve ser argumentada calmamente e respaldada por evidências ou raciocínio claro."
"Frases úteis incluem:"
- "Agradecemos essa sugestão, mas acreditamos que..."
- "Discordamos respeitosamente pelos seguintes motivos..."
- "Consideramos esse ponto cuidadosamente; no entanto, nossos dados não nos permitem..."
"Sempre que possível, apoie sua posição com citações ou padrões metodológicos em sua área. Por exemplo:"
"O revisor recomenda usar o teste X em vez do teste Y. Em nossa área, o teste Y é a abordagem padrão para dados desse tipo (veja Smith et al., 2020; Lee & Gomez, 2022), e aplicar o teste X violaria a suposição de independência. Portanto, mantemos o teste Y, mas ampliamos a Seção 3.3 para justificar essa escolha de forma mais clara (página 9, linhas 190–210)."
7. Envolvendo o Editor de Forma Construtiva
Os editores não são meros mensageiros passivos entre autores e revisores; eles são responsáveis por equilibrar diferentes pontos de vista e tomar decisões informadas. Se você encontrar:
- conflitos irreconciliáveis entre revisores,
- comentários que parecem não profissionais ou fora do escopo da revisão, ou
- solicitações que contradizem a política do periódico,
você pode chamar a atenção do editor para essas questões — de forma educada e breve. Por exemplo:
“Somos gratos pelo feedback detalhado de ambos os revisores. Notamos, entretanto, que as recomendações deles quanto ao comprimento da introdução são diretamente opostas: o Revisor 1 sugere uma redução substancial, enquanto o Revisor 2 solicita mais informações de fundo. Tentamos encontrar um equilíbrio ao simplificar algumas seções e adicionar dois parágrafos esclarecedores (páginas 3–4). Agradeceríamos a orientação do editor sobre se são necessárias mudanças adicionais.”
Os editores apreciam autores que se envolvem construtivamente com o processo e reconhecem o papel do editor em resolver tais dilemas.
8. Verificações Finais Antes da Submissão
Antes de enviar seu manuscrito revisado e a carta de resposta, realize uma última rodada de verificações:
- Você abordou todos os comentários do editor e dos revisores?
- A carta de resposta está claramente estruturada, fácil de seguir e livre de erros tipográficos e gramaticais?
- As revisões no manuscrito correspondem às mudanças que você descreve?
- Você seguiu todas as instruções específicas do periódico para reenvios (nomeação de arquivos, controle de alterações, destaque, etc.)?
Frequentemente vale a pena pedir a um colega que leia sua carta de resposta para verificar se seu tom e explicações estão claros. Para submissões importantes, muitos autores também utilizam revisão acadêmica profissional para melhorar a precisão e o polimento.
9. Conclusão: Profissionalismo, Paciência e Persistência
Responder aos comentários da revisão por pares é parte integrante da publicação acadêmica. Isso exige não apenas conhecimento técnico da sua área, mas também diplomacia, atenção aos detalhes e a capacidade de ver a crítica como uma oportunidade, e não como um ataque pessoal. Um pedido de revisão, por mais assustador que seja, é um sinal de que editores e revisores veem valor no seu trabalho.
Ao ler o feedback cuidadosamente, planejar suas revisões e elaborar uma resposta clara, respeitosa e ponto a ponto, você aumenta muito suas chances de transformar um “revise and resubmit” em uma aceitação eventual. Quando discordar, fazê-lo com evidências e cortesia mostra que você é um pesquisador confiante e responsável. Quando concordar, implementar as mudanças de forma completa e transparente demonstra seu compromisso com a qualidade.
Acima de tudo, lembre-se de que a revisão por pares é uma conversa. Sua carta de resposta é o seu lado dessa conversa. Trate-a com o mesmo cuidado e profissionalismo que você aplica à sua própria pesquisa, e ela se tornará uma ferramenta poderosa para o seu sucesso na publicação.